O Mundo da Música e a Banalização da Violência Sexual

Aviso de conteúdo: violência contra a mulher, violência sexual.

Já falei anteriormente sobre o processo contínuo de objetificação e desumanização de mulheres, que acontece na Publicidade. Com a consolidação desse pensamento, o próximo passo (o da violência à) se torna ainda mais natural.

É importante lembrar que manifestações violentas podem se dar de diferentes maneiras. Violência contra a mulher pode ser doméstica, sexual, através de abusos emocionais… E elas não se limitam somente ao campo físico. Banalizar e ridicular essas ações, são violências duplas, porque estamos lhes dizendo que seu sofrimento não é tão grande assim.

A cultura do estupro, que é a normatização da violência contra a mulher, está tão arraigada na nossa cultura e nas nossas mídias, que percebê-la se torna difícil. Combatê-la, mais ainda. A cultura do estupro é perigosa justamente porque torna agressão como algo normal e corriqueiro, a ponto dela não parecer tão absurda ou revoltante assim.

Adam Levine interpreta um cara que, supostamente apaixonado, persegue a mulher com quem fantasia.

Adam Levine interpreta um cara que, supostamente apaixonado, persegue a mulher com quem fantasia.

No início de outubro, a banda Maroon 5 lançou o clipe da música “Animals”. A letra da música em si já poderia ser considerada problemática em alguns pontos… mas aí a banda resolve fazer um clipe onde leva os versos de forma literal. O vídeo mostra um homem com comportamentos no mínimo esquisitos: ele persegue pela rua uma mulher com a qual nunca trocou uma palavra; pelos lugares que ela frequenta; observa-a pela janela; tira fotos dela sem permissão. O personagem obcecado parece ainda mais estranho se levarmos em consideração que ele fantasia (e canta) sobre ela embanhado em sangue, enquanto lida com peças de carne.

Sob a desculpa da atração física, ou ainda de paixão, já se convencionou que é permitido ao homem ter esse tipo de comportamento. A romantização da violência sexual faz parecer que tudo é permitido em nome do romance.

Até o momento em que escrevi esse post, milhares de instituições, coletivos, grupos de apoio à mulheres tinham demonstrado repúdio ao clipe, mas nem Adam Levine ou outros integrantes do Maroon 5 se pronunciaram em resposta.

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Kanye West teve seu clipe “Monster” censurado pela MTV.

A televisão não é exatamente um meio que preza ou supervisiona conteúdos para que eles respeitem determinados grupos. Mas dependendo do grau de incômodo gerado, às vezes as emissoras precisam se meter.

Em 2011, o clipe de Kanye West “Monster” foi barrado pela MTV americana pelo seu conteúdo extremamente gráfico. A emissora alegou que o clipe não era adequado para o seu público, mas fez questão de explicar que não se tratava de uma censura, que estavam apenas esperando por uma edição conveniente a ser veiculada. Kanye se defendeu dizendo que o clipe era uma releitura baseada em histórias de terror conhecidas, como “A Noite dos Mortos Vivos”, “Jogos Mortais” e “Psicopata Americano”.

O interessante é que de tantos personagens que aparecem sem vida, 98% delas são figuras femininas. Elas contracenam com homens bem-vestidos (em suas formas totalmente “humanas”) e ou estão imóveis (penduradas no teto; lembrando bonecas infláveis; jogadas à mesa) ou são movidas ao gosto do homem. Em todo o vídeo, apenas duas figuras masculinas aparecem em semelhante posição vulnerável.

Ao que parece, no fim das contas, o vídeo não voltou à televisão, embora esteja disponível online.

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Lady Gaga inconsciente, à mercê de um “médico” acusado de abusos sexuais.

Já Lady Gaga nem chegou a ter seu clipe vetado pela emissora de música; ela mesma evitou que ele fosse lançado, quando a veiculação de um teaser já causou furor o suficiente.

O teaser da música “Do What U Want”, feita em parceria com R. Kelly (que já levou 14 processos por pedofilia e abuso sexual) e dirigido por Terry Richardson (também acusado de usar sua posição de poder para abusar sexualmente de modelos que trabalharam com ele), nem ultrapassa 30 segundos. Mas mostra R. Kelly aplicando sedativo na cantora, para abusar dela. Um grupo de enfermeiras aparece e dança sobre o corpo desacordado de Lady Gaga, ao som de “faça o que você quiser com o meu corpo“.

Dá pra ficar mais explícito que isso é cultura do estupro? Uma pessoa inconsciente ou com o estado mental alterado não tem condições de consentir; e se uma pessoa brinca com o seu corpo nessas condições, ela a está violentando.

Terry também aparece brevemente, porém depois que as acusações contra ele ganharam mais força, sua aparição também não pareceu uma boa ideia. Apesar de nada disso ter sido um problema na hora de fazer ou montar o conceito do clipe, pelo menos Lady Gaga não deixou que isso fosse veiculado mundialmente.

Obviamente, esses artistas não foram os primeiros a escreverem uma música nesses moldes, ou a gravarem videoclipes assim. Tampouco serão os últimos. O problema é que esses materiais se tornaram muito mais acessíveis pela Internet, onde é quase impossível controlar conteúdos que pulverizam mensagens (explícitas e implícitas) de violência à mulher.

Quando vamos parar de ver essas representações de entretenimento como algo nascido no vácuo?

Os Três Erros Mais Comuns da Mídia em Relação a Bissexuais

Antes de começar a fazer essa publicação, eu fiz essa pergunta para algumas pessoas, e queria que você também tomasse um tempo para respondê-las. Não precisa pensar muito. Você lembra, de cara…

1. … de uma celebridade bissexual?

2. … de um(a) personagem bissexual?

3. … de alguma estória sobre ser bissexual?

Se não lembra, talvez o problema não seja exatamente a sua memória. E sim as maneiras como os diferentes tipos de mídia lidam com a bissexualidade.

 

1. Invalidar

Na vivência bissexual, a invalidação pode acontecer de diversas maneiras, e pode variar de acordo com o gênero também. Os homens, por exemplo, são vistos como secretamente gays, que não tem coragem de sair do armário. Mesmo que ele diga “bissexual”, as pessoas ouvem “homossexual”. Já as mulheres são fetichizadas ou ridicularizadas. Elas podem ser vistas como diversão para as práticas sexuais do homem hétero, ou ainda como enganadoras de lésbicas.

Algo que acontece com ambos é a pressuposição da sexualidade: se a pessoa está em um relacionamento homoafetivo, presume-se que a pessoa “mudou de time”. Se está em um relacionamento heteroafetivo, isso já é visto como “voltar atrás”. Homens e mulheres se deparam com a surpresa alheia quando em um relacionamento do gênero oposto, mesmo que isso esteja de acordo com a definição de bissexual.

A expressão "apesar de" não faz sentido nenhum. Ser bissexual não impede ninguém de se relacionar com mulheres ou ter filhos.

A expressão “apesar de” não faz sentido nenhum. Ser bissexual não impede ninguém de se relacionar com mulheres ou ter filhos.

 

Essas pressuposições deslegitimam a bissexualidade, fomentando a visão de que existe apenas o 8 ou o 80, o preto ou o branco, o heterossexual ou o gay/a lésbica.

 

Embora tenha tido algumas controvérsias logo que saiu do armário, Cinthia Nixon se declarou bissexual.

Embora tenha tido algumas controvérsias logo que saiu do armário, Cinthia Nixon se declarou bissexual.

 

2. Aglutinar (para invisibilizar)

Por conta da sigla do movimento LGBT, pessoas bissexuais estão acostumadas a, quando conseguirem algum espaço, serem agrupadas com lésbicas e gays. Embora seja óbvio que pessoas LGB tenham algumas experiências parecidas (especialmente por serem tratadas como sexualidades “desviantes”), bissexuais tem vivências específicas e muito diferentes das pessoas monossexuais¹.

Quando Ana Carolina falou publicamente sobre a sua bissexualidade, a revista em questão além de cometer vários erros etimológicos (como usar “homossexualismo” e “lesbianismo”, e tratar a orientação da cantora como “opção sexual”), também aglutinou a sua história à de gays e lésbicas. As suas particularidades quanto a esses dois grupos acabaram então não sendo destacadas, discutidas ou sequer mencionadas.

Só para citar um exemplo, lésbicas e gays não sofrem o rechaço de ouvirem que sua sexualidade não existe, algo que bissexuais tem que lidar continuamente e que poderia ser desmistificado nesses espaços.

 

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3. Omitir

Ainda que respostas para a segunda e terceira perguntas venham à cabeça, elas vem acompanhadas de dúvidas: são personagens que deram a entender a sua bissexualidade; que tiveram relações sexuais com mais de um gênero, mas nunca declararam nada; estórias que talvez sejam sobre uma pessoa bissexual.

A representação de pessoas bissexuais frequentemente se torna uma questão de interpretação, por carência de rótulos explícitos. Por causa dos estigmas que a bissexualidade carrega (de indecisão, promiscuidade e que geram desconfiança aos outros), poucas vezes vemos a bandeira B sendo levantada em espaços que gerariam discussões e visibilidade.

Para falar de uma série mais recente e que possui muitos avanços em questão de representação e representatividade feminina, vejamos o exemplo Orange Is The New Black, um seriado com mulheres multifacetadas e diversificadas. E mesmo com todo o avanço da história, a protagonista Piper Chapman e a personagem Lorna Morello não são identificadas como bissexuais, apesar de terem envolvimentos afetivo-sexuais com homens e mulheres. Em alguns momentos da série, Piper ainda é referida como “ex-lésbica”, observação que ela nunca corrige.

Se você parar para analisar a lista em inglês do Wikipedia sobre a representação bissexual através de personagens de seriados, filmes e literatura, vai perceber que a maioria deles são descritos como fluidos. Isso quer dizer que a sexualidade foi implicitada, ou  interpretada como uma fase de experimentação ou transição (de hetero para lésbica/gay), devido à sociedade majoritariamente heterossexual em que vivemos. Vale lembrar que o argumento da “confusão” é muito usado para deslegitimar a sexualidade de pessoas bis.

 

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Aqui você pode ler mais sobre personagens bissexuais.

 

 

É claro que nem sempre temos o poder de dialogar com profissionais de comunicação ou levar nossos apontamentos a essas pessoas, mas prestar atenção a esses “pequenos” detalhes desperta nosso senso de fiscalização. Pode não parecer, mas isso faz toda a diferença para quem se sente constantemente desrespeitado pela sociedade.

Esta postagem faz parte da Blogagem Coletiva pela Visibilidade Bissexual cujo objetivo é combater a invisibilidade que a comunidade bissexual sofre, bem como combater estereótipos. Bissexual não é uma pessoa confusa, não alguém que está experimentando. Não são pessoas mais propensas a traírem ou terem múltiplos relacionamentos.

 

¹ Monossexual é a pessoa que se sente atraída e/ou tem relações afetivo-sexuais com pessoas somente de um gênero.

Clichês da Publicidade: A (Hiper)Sexualização das Mulheres, o Controle do Corpo Feminino e o Poder Masculino

Aviso de conteúdo: imagens possivelmente NSFW e que podem remeter à violência sexual.

 

Não é preciso ir muito longe para encontrar exemplos fáceis de mulheres sendo hipersexualizadas em todos os tipos de mídia. Você talvez possa passar dias sem ver uma novela ou um filme que as retrate assim; pode até evitar ler aquele livro best-seller que faz exatamente a mesma coisa. Mas não esbarrar numa dessas peças publicitárias é bem mais difícil. Elas estão em todo lugar.

O que a gente vê em todo lugar, repetidamente e à exaustão, uma hora acaba se tornando natural em nossas cabeças: “uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade”, disse um certo ministro da propaganda, Goebbels.

O que geralmente não se questiona é: qual o interesse em que mulheres sejam mostradas assim?

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Primeiramente, desumanizar. Mulheres vendidas por uma sociedade patriarcal (tal qual a nossa) como objetos hipersexualizados são vistos como seres que não possuem vontade própria, agência ou autonomia. Passa-se a padronizar a mulher como algo a ser julgado, possivelmente admirado.

Se mulheres são objetos sexuais, a quem elas estão servindo?

Ao homem heterossexual, expectador, recai o poder de decisão sobre o corpo dela(s): ele aplaude ou rechaça, aprova ou desaprova. Se as mulheres não atendem a esse papel de submissão, isso lhe pode ser cobrado ou forçado através da cultura do estupro.

A cultura do estupro faz com que a violência sexual seja vista como algo normal. O consentimento da mulher não é levado em consideração, uma vez que ela já é vista como incapaz de pensar por si ou de ter qualquer autonomia. O homem heterossexual, por ser “viril” e “másculo” precisa ser saciado quando bem entender.

É um ciclo de agressões que nos submete à uma percepção destrutiva sobre a mulher, e que não se limita somente ao imagético da publicidade.

 

A autora Kathleen Gough listou em “A Origem da Família” oito táticas que mostram como o homem controla a mulher (e a sexualidade dela) em nossa sociedade. Algumas delas são aplicadas na publicidade:

1) negando a sexualidade da mulher: a sexualidade da mulher é negada enquanto fator individual, e por isso ela não é incentivada a descobrir seu próprio corpo e os prazeres da masturbação. A mulher é pressuposta que seja heterossexual, para servir ao homem. Ainda que a sexualidade dela seja lésbica ou bissexual, ela existe apenas para o fetiche masculino.

Peça publicitária Nikon S60.

Peça publicitária Nikon S60.

 

2) forçando a sexualidade da mulher: a cultura do estupro torna nossa visão de violência mais elástica em se tratando das mulheres; se for para satisfazer o homem, a vontade da mulher fica em segundo plano.

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Peça publicitária com Silvio Berlusconi, que já foi acusado de crimes sexuais. Executivos da agência responsável (JWT India) foram demitidos depois da resposta negativa à peça.

 

3) comandando ou explorando o trabalho delas a fim de controlar a sua produção: a maternidade e os cuidados domésticos são vistos como obrigatórios e não-remunerados.

Anúncio Tom Ford.

Anúncio Tom Ford.

 

4) controlando-as ou as roubando de suas crianças: o cuidado obstétrico é feito majoritariamente por homens, que tomam decisões descartando a autonomia das mães.

 

5) confinando-as fisicamente e privá-las de seus movimentos: a obrigação da mulher tem que ficar “o tempo todo” em casa, a impede de ocupar outros espaços além do doméstico. Já o vestuário dito feminino, do véu ao salto alto e saias, privam-na de movimentação livre e despreocupada, já que ela precisa ficar atenta ao seu corpo e como o outro o está vendo.

gucci

 

6)  usando-as como objetos em transações masculinas: a mulher é vista como “presente”.

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7) restringindo a sua criatividade: é esperado que toda mulher queira apenas ser mãe e dona-de-casa. Se ela se desvia desse curso, não raro ela é explorada por homens detentores de conhecimento, como professores e artistas.

 

Anúncio feito por agência brasileira para a KIA, que chegou a ganhar prêmio em Cannes. O prêmio foi retirado quando a KIA reportou não ter aprovado a peça.

Anúncio feito por agência brasileira para a KIA, que chegou a ganhar prêmio em Cannes. O prêmio foi retirado quando a KIA reportou não ter aprovado a peça.

 

8) retirando-as de amplas áreas de conhecimento e de realizações culturais da sociedade: com todas as restrições, a mulher é continuamente desestimulada a participar de áreas de conhecimento, e algumas profissões são tidas como “masculinas”, enquanto elas são vistas como intelectualmente inferiores. Além disso, com o monitoramento do sexo, põe-se o intelecto dela em segundo plano, de maneira que a lógica de controle se repete.

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Os signos para se identificar a hipersexualização das mulheres vão se tornando evidentes: posturas, vestuário, expressão facial, atividade retratada, ângulo da câmera – são combinações de atributos que propõem submissão à vontade masculina.

Embora o olhar crítico à publicidade tenha se tornado mais comum nos últimos anos, muito pela pressão que as mídias sociais são capazes de fazer aos órgãos regulamentadores e às marcas, é preciso que especialmente as mulheres fiquem atentas ao quanto disso é absorvido despercebidamente. Tanto para si, no que tange o seu corpo, sua sexualidade e suas vontades, quanto em suas relações com outras mulheres, reproduzindo o monitoramento de comportamentos ditos desviantes dessas regras de subserviência.

Se homens fossem retratados da mesma maneira que mulheres são (parte I)

Demorou, mas aconteceu. Na verdade, nem demorou tanto assim, mas o fato é que aconteceu: o apelidado jornalismo-punheteiro (ou, aquelas matérias que resumem a mulher em um pedaço de carne a ser avaliado, analisado e quem sabe digno ou não de ‘aprovação’) chegou na sua edição eleitoral bienal.

A UOL publicou uma lista de 24 candidatas de todo o Brasil eleitas como “as mais belas”. Usando expressões como “fulana conserva uma beleza sóbria e marcante”, “beltrana exibe uma beleza madura do alto de seus 48 anos” e “ciclana quer levar seu charme discreto e comportado para Brasília”, é quase impossível não cobrir o rosto de vergonha.

Todo ano eleitoral é a mesma coisa. As mesmas listas de “candidatas mais bonitas” colocam a aparência das mulheres como algo relevante para a sociedade. Na verdade, quem já prestou atenção sabe que não é preciso eleição: qualquer evento, de premiações a esportes, são seguidos de alguma lista do gênero. Pode ser jogadora, torcedora, atriz, lutadora… Não importa onde a mulher esteja. O que importa é saber quais delas atendem a um determinado padrão de beleza. Quais delas estão se esforçando para estarem “na moda”; quais nem estão tentando e quais estão tentando demais.

E isso não é exclusividade do Brasil. A América do Sul, por exemplo, possui três presidentas mulheres e todas elas são submetidas a um crivo midiático sobre suas aparências, mas de maneiras diferentes: Michelle BacheletDilma já foram alvo de piadas por serem “feias”, enquanto Cristina Kirchner já foi acusada de ser “elegante demais”. Na Itália, a ministra Maria Elena ganhou apelidos e fotos manipuladas por ser considerada muito atraente. Os cabelos de Hillary Clinton recebem atenção especial em determinados portais – e mesmo que vez ou outra ridicularizem homens também, é nítido que o número de vezes em que isso acontece é muito menor do que com as mulheres.

O campo político não é um território feminino, nem está se tornando mais amigável com o passar dos anos. Embora a participação feminina esteja crescendo, ela ainda não é o suficiente se considerarmos que mais da metade do eleitorado brasileiro é composto por mulheres. Atualmente, ocupam menos de 10% do Congresso Nacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Seria de se imaginar que se tratando de um assunto sério como política, a aparência e as roupas usadas por alguém seriam considerados irrelevantes. Que as pessoas estariam mesmo interessadas em propostas, planos de governo e ações. Mas uma mulher ocupando um cargo político é um perigo para os padrões tradicionais: a sua presença é a negação do estereótipo da submissão feminina. É a negação de que existem espaços distintos para homens e para mulheres.

Por isso, quando ela é vista em um palanque, desviar a atenção dos seus discursos para a sua aparência a tornam um objeto de decoração; um bibelô que não precisa ser levado a sério. Esmiuçar a sua aparência, chamando-a de muito masculina ou sexualizando sua figura, é uma tática para desviar o foco do seu profissionalismo.

Infelizmente, muitas pessoas já naturalizaram esse julgamento do corpo e das roupas da mulher. Para ilustrar o quão absurdo é gastar energia com isso, escolhi alguns candidatos a diferentes cargos na eleição desse ano para fazer o mesmo:

Os candidatos mais charmosos das eleições 2014

Fernando Lucas

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Jovem e casado, Fernando não revela quantos filhos quer ter. Neste #lookdodia ostenta uma ousada camisa branca que deixa seus pulsos torneados à mostra.

Lindberg Farias

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O candidato a senador do Rio de Janeiro exibe sua boa forma (mesmo depois de pai) nas praias do RJ, numa roupa primavera-verão.

Fernando Collor de Melo

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O candidato a senador de Alagoas exibe um charme de homem maduro. Ele desmente os boatos de que tenha feito botox e num ato de coragem, não pinta seus cabelos brancos.

José Serra

https://i0.wp.com/el.imguol.com/2012/10/07/7out2012---o-candidato-a-prefeito-jose-serra-faz-coracao-com-as-maos-durante-coletiva-na-sede-do-psdb-ele-vai-disputar-o-segundo-turno-com-o-candidato-do-pt-fernando-haddad-1349656305948_956x500.jpg

Dono do sorriso mais simpático das eleições paulistas, Serra não diz qual o segredo da sua beleza. Ele desmente affairs com eleitoras e diz não saber lidar com o assédio das mulheres.

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